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Entrevistas

Amor demais

 

 

        Conta uma história persa que os dois primeiros habitantes do planeta, semelhantes aos nossos Adão e Eva, cresceram como uma espécie de planta e, então, separam-se tornando-se dois, geraram filhos e amaram tanto as suas crianças que as comeram. Então, Deus disse: “Isso não pode continuar”. E reduziu o amor humano em 99,99%, para que nunca mais, de tanto amor, os pais comessem os filhos...

 

        O que está por trás dessa lenda narrada por Joseph Campbell, no livro “O poder do mito”, é o fato de que existem amores paternos que não conhecem limite. Por causa do amor sem limite os pais acabam, literalmente, destruindo seus filhos, ao permitirem tudo o que eles querem. Na lenda persa, Deus tirou esse amor infinito e extremo dos pais, para que

pudessem aprender a não aceitar tudo o que os filhos fazem. Para que fossem educadores, Deus os colocou um pouco contra os filhos. Quem ama demais não educa direito. Quando os pais são cúmplices em tudo e permitem tudo, criam cidadãos desequilibrados, que sabem que encontrarão nos pais permissividade e concordância em tudo o que eles querem. Tais filhos se tornam prepotentes e dominadores, e por isso incapaz de viver em sociedade.

 

       O livro “Quem ama, educa”, do autor consagrado Içami Tiba, aborda exatamente essa necessidade de os pais serem mais exigentes com os filhos e aprenderem a dizer não. Amar demais é como engolir os filhos e coloca-los dentro do próprio ventre para que não se machuquem. Amor correto é deixar os filhos vivos, aprendendo com os acontecimentos, tendo iniciativas, mas assumindo as conseqüências dos seus atos.

 

       Na história persa, a idéia de pais e filhos aponta para a pedagogia do amor exigente. É preciso amar um pouco menos os filhos para amá-los direito. Amor demais faz mal. Amor de menos acaba não sendo amor. Por isso, na Índia havia pequenos rituais para ajudar as mães a deixarem seus filhos irem. No caso, o guru chegava e pedia à mãe que lhe desse qualquer coisa que ela apreciasse muito; jóia ou alguma coisa de valor real. A mãe ia aprendendo a desistir daquilo que mais apreciava. Por fim, teria que desistir di filho, para deixá-lo ir e cuidar da própria vida. Amar é o contrário de possuir.

           

                                                                                 

                                                                                  Alexandra Isabel Leandro Pirola

                                                                                 

 

 

 

                                                           Araraquara, 18 de julho de 2010.